Produção nacional deve alcançar 1,4 milhão de novas unidades em 2022, diminuindo a demanda represada há dois anos

O aquecimento do mercado de motocicletas em 2022 levou a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e similares (Abraciclo) a revisar, em outubro, pela segunda vez no ano, as projeções para a produção nacional. Concentradas no polo industrial de Manaus, as montadoras instaladas no país devem encerrar os 12 meses com 1,4 milhão de veículos entregues, alta de 17% sobre o total de 1,2 milhão do ano anterior.  

Mas o ritmo ainda é insuficiente para atender a demanda gerada a partir da pandemia. No país, os 1,1 milhão de emplacamentos acumulados de janeiro a outubro neste ano superam em 23,6% o volume de igual período de 2019. No RS, na mesma base de comparação, a alta fica em 10,4%, com 26,5 mil novos licenciamentos.

Só não é maior, diz o vice-presidente do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos (Sincodiv/Fenabrave), Rogério Schroeder, porque o crescimento das vendas gaúchas ainda está represado pela capacidade de entrega das fábricas. Alguns modelos, informa, tem carência de 60 dias, e esse prazo chegou a seis meses no intervalo entre 2020 e 2021.

Isso acontece, conforme Schroeder, porque a pandemia elevou a procura por motocicletas, consideradas alternativa de renda durante o lockdown em razão da demanda por entregas a domicílio, e também opção mais segura de deslocamento individual do que o transporte coletivo. O problema, lembra, é que naquele exato momento o mundo foi impactado pela falta de chips e componentes e pela crise das cadeias logísticas, fatores que reduziram a intensidade nas indústrias.  

Há dois anos, a fabricação de motos no país tombou 13,2%, ficando abaixo de um milhão de unidades pela única vez em cinco anos. A boa notícia, avalia o dirigente, é que com quase 1,2 milhão de unidades produzidas em 10 meses em 2022, a produção já iguala a totalidade de 2021. Com isso, o déficit na oferta tende a diminuir.

— O Estado não cresce mais porque há carência de entregas nas fábricas. O mercado continua aquecido e as projeções são bastante otimistas — afirma Schroeder.  

Combustíveis

Enquanto absorviam o boom de demanda na pandemia, as concessionárias tiveram novo impulso nas vendas. A série de altas nos combustíveis entre o segundo semestre de 2021 e o primeiro semestre de 2022 resultou em maior procura no segmento.    

Gerente administrativo da Valecross, revenda Honda no RS, Galiardo Fornari ilustra o momento ao relatar o caso de um cliente que atua no setor de entregas. Há dois anos, a empresa contava com 12 motos. Passada a pandemia, são 30 veículos em circulação.  

Segundo Fornari, os dois meses de paralisação na fábrica, em razão das medidas protetivas, e a falta de componentes devem ficar no passado. Hoje, a loja contabiliza alta de 12% nas vendas comparadas com o período anterior à pandemia. A expectativa é de elevação do ritmo de produção da Honda, que respondia por 78,8% do mercado nacional, em 2020, segundo a Abraciclo.  

Nicole Barcellos, gerente comercial do grupo Motoryama, representante Yamaha no RS, diz que há potencial maior. No terceiro trimestre, a empresa obteve 40% da participação de mercado em emplacamentos na Grande Porto Alegre, com entregas 20% acima das apuradas em igual período de 2021. Até o final deste ano, a meta é chegar aos 25%. Em 2023, com maior produção da Yamaha, responsável por 13,7% do mercado nacional, há margem para expansão superior a 30% nas vendas, avalia.

Presidente da Abraciclo, Marcos Fermanian, confirma o ambiente positivo. A tendência é de retomada ainda mais forte do segmento, com curvas de produção ascendentes nas unidades fabris, afirma:

— Nossa perspectiva é fechar o ano com a produção de 1,42 milhão de motocicletas, com produção mais intensa. O mercado pede por mais motocicletas.  

Pesquisa aponta avanço das mulheres sobre duas rodas

Sexto maior fabricante mundial de motocicletas, com 30,5 milhões deste tipo de veículo, o país mantém picos de crescimento no segmento. Entre 2012 e 2022, a frota nacional teve expansão de 52%, de 20 milhões para 30,5 milhões. No RS, por onde trafegam 1,38 milhão de motos, em igual período a taxa foi menor: 27,27%.

Um dos fatores não pontuais relacionados com a ampliação do mercado é a participação latente do público feminino. Pesquisa da Abraciclo, com base em dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) mostra crescimento de 81,5%, em nove anos, na quantidade de mulheres habilitadas a pilotar – de 4,51 milhões, em 2012, para 8,19 milhões, em 2021.

Entre as estreantes, está Bárbara Mauges, 32 anos. A personal trainer, que reside em Viamão, utilizava todos os dias o transporte público para atender aos clientes em Porto Alegre. Com a pandemia, resolveu ingressar na autoescola para evitar o risco de contágio em ônibus, ganhar agilidade e economia no deslocamento.  

Concluiu o exame e adquiriu a primeira moto em janeiro do ano passado. A segunda, uma Scooter Fluo 125 cilindradas, foi comprada maio deste ano, interessada em melhor estabilidade para evitar quedas. Satisfeita com a opção, que permite rodar quase 160 quilômetros com R$ 15, reclama apenas do machismo no trânsito gaúcho e da imprudência de outros motociclistas.

— Somos vistas como algo que incomoda ou que não teria capacidade e domínio para estar em uma moto e, às vezes, tenho que provar na pista que não é bem assim. Eu era uma viamonense que andava de ônibus para cima e para baixo e que agora conta com essa autonomia. Além disso, nunca imaginei que a moto viraria o meu xodó, gosto da emoção de pilotar — relata.

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