No fim de mais um dia, me preparei para ir para casa. Foi quando a vi, ali no canto, como se estivesse esquecida. “Rodolfo, cadê a chave da Fan?”, gritei para o nosso repórter-motoqueiro. “O quê? Você vai andar de CG? Nem partida elétrica ela tem! Tem Harley, tem Bandit… E você vai usar uma 125?”
Naquele momento pareceu-me que Rodolfo estava certo, afinal a Honda CG 125 Fan é a mais singela das motocicletas atualmente no mercado, e rodar com ela seria apenas em último caso. Mas não. Dei no pedal de partida e fui. No caminho, uma longa história de 30 anos me veio à mente. Na verdade, 32 anos.
Foi exatamente em maio de 1974 que entrei na Fórmula G, uma concessionária Honda na Praça Panamericana , em São Paulo, para buscar meu pai que havia deixado sua Honda CB 750K2 para revisão. “Onde está a sua moto?”, perguntou ele assim que cheguei. Ela estava na calçada, e ele imediatamente sacou o porquê: uma Zündapp 1969, alemã oriental, não era um padrão de beleza naqueles anos 70, e eu tinha vergonha dela. Dois tempos, 100 cm3, ela andava muito, mas mais parecia saída de um filme da Segunda Guerra.
Dentro da loja, meu pai veio com a brincadeira: escolha uma! Alguns minutos se passaram até que eu percebesse que era sério, talvez porque um funcionário já estivesse levando minha Zündapp para dentro. Bem, a Honda CB 50 era uma beleza, mas eu não poderia voltar atrás na minha evolução de cilindrada. A Honda CB 360 era a mais popular naqueles tempos, mas um pouco demais para meus 14 anos. Restava a tão sonhada CB 125 , com dois cilindros, partida elétrica e visual de… velho.
Realmente, a Honda CB 125 K5 daquele ano já não tinha aquele aspecto agressivo que as maiores já possuíam. Havia uma novidade, no entanto, que eu ainda não havia considerado. A Honda CB 125S , de apenas um cilindro e partida no pedal. Linda! Fui para casa na garupa de meu pai, na velha Zündapp, mas contando as próximas 24 horas, quando eu deveria voltar lá para trocar minha primeira motocicleta por uma novinha.
A CBzinha foi minha companheira por um longo tempo, nas ruas, estradas e pistas, mesmo quando, dois anos depois, chegou a primeira Honda brasileira , a CG 125. No início achei que a nova moto pudesse ofuscar minha japonesinha, mas suas características mais marcantes me deixaram tranquilo: motor OHV, com comando no bloco (a minha era OHC, com comando no cabeçote), câmbio de 4 marchas “tudo para baixo”, como a atual Biz (a minha era “adulta”, tinha 5 marchas universal – primeira para baixo e o resto para cima) e um visual meio “apagado”. É certo que, depois disso, a CG evoluiu muito, ganhou o motor e o câmbio mais modernos e chegou ao que é atualmente. Até voltar às origens na pele da Fan . A Fan que está me trazendo agora tantas recordações.
Encontrei o texto acima entre os meus guardados, enquanto procurava lembranças sobre a tão querida Honda CG Fan. Ele foi escrito em 2006, sei disso porque foi a época em que editei uma revista auxiliado pelo repórter-motoqueiro Rodolfo. E foi também após o momento em que a família Honda CG, que já tinha o motor de 150 cm3, recebia de volta uma versão com o tão tradicional motor de 125 cm3, o velho “oitavo de litro”.
A sensação de voltar a brincar com uma 125 está descrita naquela declaração de paixão, mas é sempre possível renovar as lembranças mesmo nos dias de hoje. E a Honda CG 160 Fan é capaz disso.
No último, de um ano atrás, foi a vez da Honda CG 160 Titan , a mais equipadinha da família, realmente uma motocicleta muito bem resolvida. Agora foi a vez de passar uma semana rodando por aí na Fan, mais simples que a Titan , porém mais equipada que a Start, que, certamente, será nossa próxima aventura com as motocicletas populares. Como sou adepto da simplicidade e das rodas raiadas, até a prefiro. Bom seria se o farol fosse redondo. O freio dianteiro a tambor? Também vale. Se não fosse bom, Dona Honda não o colocaria em uma motocicleta sua.
É, a Honda CG mudou muito desde 1976 e logo, logo será uma cinquentona. E com muita história para contar.