Para alguns motociclistas a felicidade ao guidão é medida em milhares de quilômetros, e o sonho de uma viagem de moto pela América do Sul está sempre presente. No entanto, uma palavra em especial faz brilhar os olhos e o coração bater mais forte: Ushuaia.
Capital da província argentina da Terra do Fogo, tida como cidade mais austral do continente americano – na verdade este título pertence à vizinha Puerto Wiliams, 10 km mais ao sul –, Ushuaia representa uma espécie de meca para motociclistas de todo o planeta. Sair de qualquer ponto do globo e apontar a roda dianteira para o ponto mais ao sul possível de ser alcançado sobre rodas significará sempre rumar para este destino.
Nós, motociclistas brasileiros, somos assíduos frequentadores dos roteiros de viagem de moto para a Argentina, especialmente ao Ushuaia: saindo de São Paulo são “apenas” 5.300 km (na melhor das hipóteses). Considerando a volta, o passeio somará fácil, fácil uma dezena de milhares de quilômetros ao seu hodômetro.
Buscar informações sobre roteiros para alcançar esta meta do mototurismo mundial é facílimo: em tempos de Google, bastará escrever “Ushuaia de moto” para ter acesso a literalmente centenas de relatos escritos ou filmados sobre opções de trajeto, dicas de hospedagem e todo o resto – o que ver por lá durante o caminho, como fugir das roubadas e muito mais.
Mesmo você sendo um motociclista experiente, vale pesquisar bastante antes de colocar os pneus na estrada. Mas, se uma viagem de moto é algo que você nunca fez, ou fez apenas pequenos trajetos, ler tudo que puder não basta: procure conversar com alguém que tenha feito este trajeto, de preferência cara a cara. Ou, ainda melhor, arranje um companheiro/companheira com experiência em grandes roteiros.
Como sempre comentamos aqui no blog, tamanho não é documento, ou seja, qualquer moto serve para chegar onde você deseja chegar, porém é claro que a melhor opção será sempre uma moto que não só alia conforto, potência e capacidade de carga com a competência para encarar estradas de qualquer tipo.
Aliás, se o destino final é Ushuaia, acrescente uma palavra ao seu vocabulário: rípio, um tipo de piso de cascalho que era o terror de muitos motociclistas. Isso mesmo! “era” pois, dependendo do trajeto escolhido, esse piso – desafiador para uns, incômodo para outros – praticamente acabou, cedendo lugar a uma pavimentação convencional. Porém, se você quiser explorar a região como se deve, o rípio estará no cardápio.
Outros “perrengues” típicos deste roteiro? Sim, claro! O primeiro deles são os fortes ventos, que exigem uma tocada atenta, cuidadosa e que significa sempre médias horárias bem abaixo do previsto.
De resto, é importante saber que para cruzar fronteiras, a documentação de sua moto deve estar em seu nome, e é obrigatório ter um documento chamado “carta verde”, emitido por seguradoras e com validade internacional. Sem a carta verde não é possível cruzar as fronteiras. Uma particularidade deste roteiro Brasil-Ushuaia é a necessidade de cruzar um trecho do território chileno e, para tal, é necessário ter um seguro específico chamado SOAPEX, que pode ser feito online.
O que mais? O óbvio: não viaje no inverno e mesmo em outras estações você deve estar bem equipado, escolher trajes seguros, de qualidade para encarar chuva e frio sem problema. Bagagem? Quanto menos melhor, independentemente do tamanho de sua moto. Ir sozinho é possível, mas é sempre preferível estar em duas ou mais motos por questão de segurança. E quanto à moto em si, saia com pneus novos e realize uma manutenção prévia impecável, já que essa aventura ao extremo sul do mundo te dará histórias suficientes para contar, o que dispensa relatos de tragédias mecânicas. Aliás, indo de Honda, este problema estará descartado de cara.