Você está em uma loja de roupas. Caminha pelos corredores, prova uma peça, anda entre as araras, veste outra, até que, de repente, encontra uma que encaixa em seu corpo perfeitamente. Não há sobras, pontos em que fica desconfortável ou locais de aperto. Ela simplesmente tem a medida exata para o que você está procurando.
Esta é a sensação causada pela Kawasaki Z 400! Colocamos a menor naked da marca à prova em um teste que passou por vários cenários, situações e usos. O resultado desde teste completo você confere abaixo.
Kawasaki Z 400 2022: teste completo
Vamos começar pelas apresentações – e com um agradecimento à Green Point de Porto Alegre, concessionária que prontamente cedeu a unidade testada. A Z 400 foi mostrada ao mundo no final de 2018 e chegou ao mercado internacional no início de 2019. Sua missão é ser uma moto versátil, que garante agilidade na cidade e diversão na estrada.
Assim, a ficha técnica é marcada pelo motor de 2 cilindros em linha, DOHC, de arrefecimento a líquido e 399 cm³, que gera 48 cv de potência e 3,9 kgf.m de torque máximos, a 10.000 e 8.000 rpm. Com câmbio de 6 velocidades e embreagem assistida e deslizante, tem o mesmo conjunto da irmã Ninja 400.
Na ciclística, conta com chassi de aço em treliça, suspensão dianteira com garfo de 41 mm e atrás com amortecedor a gás (os cursos são de 120 mm e 130 mm). Os freios têm sistema ABS nas das rodas, pinças Nissin e contam com discos simples de 310 mm na frente e de 220 mm na traseira.
E ela é compacta. São 1.990 mm de comprimento, 800 mm de largura e 1.370 mm de entre eixos. Ou seja, praticamente os números de uma street de 250cc. Também é leve como uma, com 167 kg já totalmente abastecida. Tem tanque de 14 litros e seu assento é baixo, a 785 mm do solo.
Primeiras impressões com a moto mais barata da Kawasaki
Basta um olhar para creditar em todas as informações citadas na ficha técnica. A Z 400 realmente parece ser uma moto compacta, curta e baixa, mas tem uma particularidade: ao menos na minha opinião, ela é muito mais bonita ‘ao vivo’ que nas fotos.
Talvez porque presencialmente possamos observar todos os detalhes de seu design. O visual é herdado diretamente das Z maiores, especialmente 650 e 900, com direito a linhas agressivas, ar de esportividade, superfícies vincadas e um grande farol duplo. Materiais de qualidade, plásticos com textura e partes do chassi propositalmente à mostra fecham o pacote. É uma bela moto.
Como é a andar com a Z 400 na estrada
Pronto para a diversão? A Z 400 é uma moto na medida certa, sem sobras e nem faltas, e está em casa quando o cenário é a estrada. É garantia de alegria em um final de semana ensolarado.
Você vai extrair o máximo da experiência numa sinuosa subida de serra. Ali a pequena Z vai esbanjar agilidade entre curvas e passar segurança tanto em pontos de maior velocidade quanto em locais fechados. Mérito da ciclística acertada e da posição de pilotagem precisa, nem relaxada tampouco agressiva demais.
Créditos também ao motor, que garante adrenalina em tocada esportiva. Basta girar o punho que ele se transforma. A rotação sobe rápido, o ronco engrossa e ela entrega potência máxima em bons 10 mil rpm, mas têm fôlego (e continua acelerando) mesmo depois disso. Fica claro o DNA da Kawasaki.
Mas e para andar na boa? Ao invés de emoção, suavidade. O bem-acertado motor de 48 cv entrega conforto (com baixíssima vibração) em velocidade de cruzeiro e possibilita viagens tranquilas nos limites permitidos pelas rodovias. Aos 7.000 rpm está a 125 km/h (no painel), por exemplo.
Neste caso a ergonomia marca outro gol e assegura rolês de algumas centenas de quilômetros sem fadiga excessiva. Mas, como em toda naked, você vai sofrer com o vento no peito a partir de determinadas velocidades. Outro ponto negativo é o banco do carona, pequeno e sem apoios de mão.
Kawasaki Z400 na cidade
Se na estrada ela é garantia de diversão, na cidade não decepciona. Desvia de buracos e obstáculos com a mesma agilidade de uma street 250 (tal qual uma CB Twister ou Fazer) e entrega engates precisos no câmbio. Apesar de projetado para girar alto, o motor trabalha bem também em médias e baixas rotações. A 3.000 ou 12.000 rpm, ele sempre está à mão do piloto.
Como se trata de uma naked, oferece um pouco menos de conforto na buraqueira da cidade. As imperfeições menores passam mais despercebidas, mas as maiores (como numa rua de paralelepípido) podem incomodar um pouco. Para amenizar a situação, a suspensão traseira tem sistema com link e permite ajustes na pré-carga da mola.
Top speed e consumo: Z 400 em números
O motor da Z 400 não tem buracos e entrega potência em quase todas as rotações, mas ele gosta mesmo de tocar mais forte. A pequena Kawasaki acelera de 0 a 100 km/h em cerca de 5 segundos e tem velocidade máxima próxima dos 180 km/h reais (cerca de 190 km/h no painel). Bons números para uma moto de 400 cilindradas.
O consumo é menos surpreendente. No teste, a Z 400 fez médias na casa dos 25 km por litro. Em tocada mais esportiva ficou logo acima dos 21 km/litro, enquanto que em trechos mais lentos de rodovia chegou aos 27 km/litro.
Pontos negativos
Como tudo na vida – e nas motos, nem tudo são flores. A Z 400 faz a lição de casa nas matérias mais complexas, como ergonomia, ciclística e desempenho, mas poderia estudar um pouco mais outros detalhes.
O que mais me incomodou foi o acabamento. A região em torno do painel é envolta por cabos e parafusos aparentes, itens geralmente cobertos em outras motos premium. Além disso, o LCD tem fundo invertido (blackout), que tem a visibilidade prejudicada pelo excesso de reflexo mesmo em dias nublados.
Falando no painel, falta um botão de navegação junto ao punho. Sem ele, toda vez que você quer navegar entre as funções (ver a hora, consumo ou distância percorrida) é preciso tirar uma das mãos do guidão. Por fim, o próprio layout do painel poderia ser revisto. Ele remete às antigas ER6N e primeira geração da Z 650, se distanciando do bem acabado painel da Ninja 400 ou da tela TFT da atual Z 650.
Mercado: comprar a Z 400 ou… ?
A Z 400 é um produto interessante e tem concorrentes diretas, especialmente a Yamaha MT 03. Já para quem prefere a entrega de potência do motor monocilíndrico, há a KTM 390 Duke. E ainda tem a Honda CB 500F, um pequeno passo acima em termos de cilindrada e conforto.
Se o nicho é competitivo, os valores também. A Kawasaki tem preço sugerido de R$ 33.310, contra os R$ 30.890 da Yamaha. Porém, nas lojas a diferença cai para menos de R$ 1.500: segundo a Fipe, a Z 400 custa em média R$ 33.790, enquanto a MT 03 é encontrada por R$ 32.371. Para completar, a CB tem preço sugerido de R$ 39.100 (Fipe: R$ 45.399) e a KTM, de R$ 36.990 (Fipe: R$ 36.715).
Veredito: vale a pena comprar a Kawasaki?
O nicho das ‘pequenas’ naked é muito atraente, porque represeta uma ascensão natural para quem vem das street de 250 ou 300 cilindradas. Se preservam a mesma agilidade encontrada em modelos como Honda Twister ou Yamaha Fazer, entregam uma experiência muito mais divertida e segura para passeios em estradas ou até viagens. E tudo isso por um preço que pode caber no bolso.
Certamente, a Z 400 e uma opção a considerar. Uma moto que veste bem, no meio termo entre a esportividade e a praticidade, e com desempenho que garante divertidos roles de final de semana. E tudo isso com preço competitivo, muito próximo dos concorrentes diretos.